Postado em agosto de 2010
Por Tuca Monteiro
Quarta-feira de um inverno chuvoso, e lá estávamos nós (Amílcar e eu) caminhando pela Visconde de Inhaúma. Não, não estávamos a ver vitrines, mesmo porque em dias chuvosos temos que dirigir nosso olhar sobre as inúmeras poças d’ água ocasionadas pelo afundamento dos blocos intertravados, e sobre os"canais" formados pelo excesso de água provenientes das calhas que são lançadas diretamente pelos condutores sobre nossos fatigados pés.
Penso cá com meus pezinhos se não é o momento de adotar as galochas como parte do meu vestuário para os dias chuvosos; afinal, está na MODA, assim como os blocos intertravados, que caíram no gosto dos governantes!
Contudo, há uma coisa pior que as tais barreiras urbanísticas (poças d’água no passeio devido ao piso inadequado): a barreira atitudinal, com uma pitadinha do tal “jeitinho” de tirar vantagem de tudo e de todos.
Imaginem vocês que, depois de tanto saltarem as poças d’água, ficarem “presos” sobre uma rampa de acesso à calçada sem terem por onde passar, a chuva caindo insistentemente e os carros buzinando freneticamente torturando seus ouvidos, se depararem, inertes, diante de um carro: um carro com o Símbolo Internacional de Acesso (SIA) no vidro, estacionado sobre a faixa de pedestres!
Eis que o vidro do carro baixa lentamente e vocês avistam uma jovem senhora que lhes diz indignadíssima: "parei aqui pois a vaga destinada a pessoa com deficiência está ocupada, e eu tenho que pegar minha mãe que é deficiente. Ninguém respeita essas vagas!" (sic)
O que fazer? Tomar partido da situação em favor da jovem senhora?
Naturalmente que SIM! Não é esta a reação de quem luta pelo direito a Acessibilidade? Colocando-se no lugar do outro, compartilhando da mesma indignação?
No entanto, não fora esta reação que tivemos; não de imediato: ficamos parados por alguns segundos observando o desenrolar dessa situação tão corriqueira em São Caetano do Sul e no país, quem sabe no MUNDO!
E incomodada com a situação, a jovem senhora manobrou o carro desobstruindo a passagem de pedestre, parando ao lado do carro que estava na vaga exclusiva e solicitou ao jovem senhor que desse o lugar a ela, pois ela tem o direito a vaga, afinal, ela tem o símbolo de acesso no vidro e precisa pegar a mãe que tem uma deficiência.
O jovem senhor QUE SE APODEROU DA VAGA disse constrangido que aguardasse um pouquinho, que estava na espera da saída do carro da frente para estacionar o seu.
Ela então balançando a cabeça em sinal de desaprovação optou pela vaga que estava sendo liberada. Estacionou e se dirigiu a agência bancária.
Agência bancária? Indagamos.
Será que a mãe estava aguardando a filha na agência bancária? Será que não precisará de ajuda para deslocá-la até o carro, já que está chovendo e o carro está distante da plataforma elevatória que dá acesso a agência do Banco do Brasil?
Hora de manifestarmos nossa indignação oferecendo ajuda. Nos dirigimos a agência e olha aqui, e olha ali, anda para cá, anda para lá e....
Para nossa surpresa NÃO havia mãe com deficiência, apenas encontramos a jovem senhora fazendo seus serviços bancários. Saiu toda faceira e seguiu seu destino.
Se aquele símbolo está ali porque de fato há uma pessoa com deficiência que utiliza o carro, não sabemos. O que ficou óbvio é que a jovem senhora fez uso de uma circunstância para obter um privilégio: não havia uma pessoa com dificuldade de locomoção com a jovem senhora; não havia o porquê dela utilizar a vaga exclusiva e muito menos estacionar sobre a faixa de pedestre!
Lembrando que, segundo o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), a primeira constitui-se uma infração leve e a segunda uma infração grave, ambas passíveis de multa e remoção do veículo! Nunca vi aqui em Sanca veículos sendo guinchados por estarem estacionados tanto na faixa de pedestres quanto nas vagas exclusivas ou obstruindo rampas de acesso a calçada. Multas, idem. E isso é corriqueiro na cidade, como podemos notar nas imagens...
Atenção brasileiros e brasileiras: essas vagas devem estar disponíveis às pessoas que fazem uso de aparelhos para sua locomoção, tais como cadeira de rodas, andadores, muletas; é por isso que as vagas exclusivas estão sempre - ou deveriam estar - demarcadas próximas de rampas e dos acessos aos edifícios. Colar um adesivo qualquer com o desenho do SIA (Símbolo Internacional de Acesso) no vidro não lhes dão o direito de fazerem uso de uma vaga destinada à pessoa cuja deficiência física ou mobilidade reduzida dificulta sua locomoção, a não ser que vocês estejam conduzindo alguém nestas condições.
Com a RESOLUÇÃO 304 DE 18 DE DEZEMBRO DE 2008 somente terão direito ao uso das vagas as pessoas que portarem este cartão...
Este cartão identificador é uma tentativa de coibir o uso indiscriminado destas vagas. Porém, se não houver fiscalização pelos órgãos competentes e a aplicação das penalidades, o "jeitinho" de se tirar vantagem de tudo e de todos continuará.
Com a RESOLUÇÃO 304 DE 18 DE DEZEMBRO DE 2008 somente terão direito ao uso das vagas as pessoas que portarem este cartão...
Este cartão identificador é uma tentativa de coibir o uso indiscriminado destas vagas. Porém, se não houver fiscalização pelos órgãos competentes e a aplicação das penalidades, o "jeitinho" de se tirar vantagem de tudo e de todos continuará.
Como disse a jovem senhora indignada: "ninguém respeita essas vagas".(sic)
É uma guerra? O vale tudo continua, a cara de pau impera, a lei de Gérson faz história!
ResponderExcluirEste blog continua fabuloso e necessário. Obrigado pelas informações, sempre uteis.
Olá André...
ResponderExcluirEu diria que é falta de conscientização da população! Por isso é que lutamos por uma campanha permanente de Acessibilidade na cidade de São Caetano do Sul. Informar para conscientizar.
Informar e conscientizar primeiramente todos os setores da prefeitura inclusive a assessoria do executivo, informar e conscientizar também os legisladores. André aqui em "sanca" tem “otoridade” que acha que pode estacionar nas vagas exclusivas!
Nós e que agradecemos sua participação, André.
Empatou! Em Sampa também , e Cotia nem se fala.
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