Sobre o Movimento Popular INCLUA-SE

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São Caetano do Sul, Região do ABCD /São Paulo, Brazil
Não sabemos o que somos e sim o que NÃO somos! Não somos uma organização não governamental sem fins e muito menos com fins lucrativos (ONGs); Não somos um INSTITUTO; Não somos uma INSTITUIÇÃO nem pertencemos a uma; Não somos de CONSELHOS nem representamos segmentos. Não defendemos bandeiras PARTIDÁRIAS. Sendo assim, somos ILEGÍTIMOS aos olhos dos Poderes Constituídos!

Vagas exclusivas para exclusivos: um diálogo com o Chefe de Gabinete da Prefeitura.

postado em 05.09.10









Por Amilcar Zanellato

Estive com meus clientes na sede da Prefeitura. Em São Caetano, a sede fica num parque denominado Parque Chico Mendes. Ao chegarmos, de carro, procurou meu cliente (que não tem deficiência) lugar para estacionar. Observei que havia vagas demarcadas para uso exclusivo de pessoas com deficiência; mas todas ocupadas por pessoas SEM deficiência. 

Entrada da Prefeitura e a vaga demarcada para uso exclusivo.

Depois de tratar o assunto que me levara à sede com meus clientes, decidi fazer reclamação formal sobre o uso indevido das vagas destinadas às pessoas com deficiência ao Chefe de Gabinete da Prefeitura, Sr. Cicaroni. Aproveitei a oportunidade para sugerir a formação do Comitê Municipal de Acessibilidade (mas disso tratarei em outra postagem).

Atendido com muita cortesia pelo Sr. Cicaroni, ele anotou minha reclamação pontual e a sugestão.

Disse a ele, também, quão precária é a fiscalização de trânsito em São Caetano, pois se não se é respeitada a legislação de trânsito nem mesmo DENTRO DO ESPAÇO da sede da Prefeitura, queira crer no restante do município!

Cicaroni alegou que os motoristas não têm consciência, são mal-educados, que instruíra os(as) guardas da GCM que prestam serviço de segurança e fiscalização em próprios públicos a não permitirem a utilização das vagas por quem não tiver este direito (1). Da sala de Cicaroni é possível observar as vagas. Apontei para Cicaroni a área externa, onde havia, “às barbas” da GCM, dois veículos estacionados em vaga exclusiva, irregularmente. Cicaroni, constrangido, sugeriu que se colocassem cones (!?) em frente às vagas exclusivas. Conversei com ele e o fiz repensar a hipótese dos cones: creio que ele compreendera que esta solução, ao invés de desobstruir, desobstaculizar, acaba tendo sentido contrário como podemos observar no exemplo abaixo:

Universidade de São Caetano do Sul obstáculos impedem que a pessoa que faz uso de aparelho para locomoção utilize a vaga destina a ela.

Sugeri que houvesse melhor fiscalização presencial e que houvesse uma sinalização de alerta mais contundente: placas com aviso, a quem estacionasse indevidamente em vaga demarcada, de que estaria o veículo sujeito a guincho.

Solícito, imediatamente o Sr. Cicaroni telefonou para o Secretário de Mobilidade Urbana do município, Sr. Marcelo Ferreira, e relatou que havia um portador de necessidades especiais (sic) reclamando do uso indevido das vagas exclusivas e solicitou que (ao menos dentro do parque (!?)) fossem colocadas às placas alertando sobre a sujeição do veículo de remoção por guincho.

Um mês depois retornei à sede e aproveitei para observar o uso das vagas: ainda havia veículos sem autorização as utilizando.

Voltei ao Sr. Cicaroni e lhe perguntei, tanto sobre a formação do Comitê, quanto à fiscalização e a adoção das placas com os dizeres: “Sujeito a guincho”. O Sr. Cicaroni me dissera que “determinara à Guarda Civil que presta serviço no Parque a multar infratores”(a Guarda Civil Municipal de São Caetano do Sul tem autoridade para autuar (multar) infratores de leis de trânsito). Quando perguntado sobre o aviso “Sujeito a guincho”; voltou atrás: acha “um exagero”. 

Há um fato: a municipalidade demarcou vagas de uso exclusivo a pessoas com deficiência. Há outro fato: a municipalidade não fiscaliza o uso adequado destas vagas.O município de São Caetano tem aproximadamente 15 Km2. Necessária a fiscalização. Necessária a formação do Comitê Municipal de Acessibilidade. Trataremos disso oportunamente.

(1) Aqui, cabe um parêntese:
Noite dessas, estive numa agência bancária sita na esquina da Rua Visconde de Inhaúma com Rua Bom Pastor. Avistei, do outro lado da esquina, uma caminhonete - dessas caríssimas – estacionada na esquina, sendo que metade dela ocupando vaga demarcada ao uso exclusivo por pessoas com deficiência e outra metade sobre a faixa de pedestres e interrompendo acesso à rampa existente na calçada semelhante a situação da imagem abaixo.

Imagem demonstra o desrespeito as leis de trânsito na cidade de São Caetano do Sul.

Sobre a calçada, no mesmo lado, estava estacionada uma viatura (no. 445) da GCM, também obstaculizando o acesso à rampa.

Sempre há viaturas tanto da GCM quanto da PM estacionadas nesta esquina ( rua Bom Pastor com rua Visconde de Inhaúma)



Entrei na agência e havia apenas um terminal funcionando e duas pessoas aguardando a vez de utilizá-lo. Devo ter permanecido na agência por uns cinco minutos. Ao sair, lá estavam os dois veículos, no mesmo lugar. Dirigi-me ao casal de GCMs que se encontrava fora da viatura, conversando com um rapaz, e lhes perguntei:

“A viatura de vocês está estacionada sobre a calçada e interrompendo o acesso a rampa. É normal isso?” 

“Sim”, me respondeu a GCM, “estamos em ação preventiva e a orientação é de posicionarmos a viatura desse modo”. 

Perguntei-lhes: 

“E quanto a essa caminhonete estacionada sobre a vaga demarcada e faixa de pedestres?”. 

Olharam e, constrangidos por não terem notado antes, o guarda me respondeu: 

“Vamos autuá-lo, Senhor.” 

E ficou ali, parado, retomando a conversa com o rapaz. 

“Então... faça!” disse eu ao guarda. 

Enquanto o guarda conversava, o motorista da caminhonete chegou e se retirou. 

O guarda: 

“Como viu, não houve tempo hábil (!!???) para autuá-lo, Senhor.” 

Tempo hábil!!???? Sabe-se quanto tempo já havia se passado com aquela caminhonete ali, irregularmente estacionada! 

Nisso, na esquina diametralmente oposta, onde também há uma vaga exclusiva demarcada, estaciona um Voyage. Apontei ao guarda e lhe disse: 

“E aquele, haverá tempo hábil para autuá-lo?” 

“Sim, Senhor”, me respondeu o guarda, “basta o Senhor acionar o 199 (!!!????) e assim que eles nos cientificarem por rádio, autuarei.” (!!????) 
Liguei para o 199 e fiz a reclamação do péssimo atendimento dispensado pela GCM. Sugeriram que eu fizesse reclamação formal diretamente na Base da GCM. E o veículo estacionado irregularmente não fora multado.

Aos olhos de alguns, a vaga é destinada exclusivamente ao modelo do veículo.
 
 

Vale tudo por uma vaga para autos?

Postado em agosto de 2010

Por Tuca Monteiro                           



Quarta-feira de um inverno chuvoso, e lá estávamos nós (Amílcar e eu) caminhando pela Visconde de Inhaúma. Não, não estávamos a ver vitrines, mesmo porque em dias chuvosos temos que dirigir nosso olhar sobre as inúmeras poças d’ água ocasionadas pelo afundamento dos blocos intertravados, e sobre os"canais" formados pelo excesso de água provenientes das calhas que são lançadas diretamente pelos condutores sobre nossos fatigados pés. 


Penso cá com meus pezinhos se não é o momento de adotar as galochas como parte do meu vestuário para os dias chuvosos; afinal, está na MODA, assim como os blocos intertravados, que caíram no gosto dos governantes!

Contudo, há uma coisa pior que as tais barreiras urbanísticas (poças d’água no passeio devido ao piso inadequado): a barreira atitudinal, com uma pitadinha do tal “jeitinho” de tirar vantagem de tudo e de todos.

Imaginem vocês que, depois de tanto saltarem as poças d’água, ficarem “presos” sobre uma rampa de acesso à calçada sem terem por onde passar, a chuva caindo insistentemente e os carros buzinando freneticamente torturando seus ouvidos, se depararem, inertes, diante de um carro: um carro com o Símbolo Internacional de Acesso (SIA) no vidro, estacionado sobre a faixa de pedestres!

Eis que o vidro do carro baixa lentamente e vocês avistam uma jovem senhora que lhes diz indignadíssima: "parei aqui pois a vaga destinada a pessoa com deficiência está ocupada, e eu tenho que pegar minha mãe que é deficiente. Ninguém respeita essas vagas!" (sic)

O que fazer? Tomar partido da situação em favor da jovem senhora?

Naturalmente que SIM! Não é esta a reação de quem luta pelo direito a Acessibilidade? Colocando-se  no lugar do outro, compartilhando da mesma indignação?

No entanto, não fora esta reação que tivemos; não de imediato: ficamos parados por alguns segundos observando o desenrolar dessa situação tão corriqueira em São Caetano do Sul e no país, quem sabe no MUNDO!

E incomodada com a situação, a jovem senhora manobrou o carro desobstruindo a passagem de pedestre, parando ao lado do carro que estava na vaga exclusiva e solicitou ao jovem senhor que desse o lugar a ela, pois ela tem o direito a vaga, afinal, ela tem o símbolo de acesso no vidro e precisa pegar a mãe que tem uma deficiência.

O jovem senhor QUE SE APODEROU DA VAGA disse constrangido que aguardasse um pouquinho, que estava na espera da saída do carro da frente para estacionar o seu.

Ela então balançando a cabeça em sinal de desaprovação optou pela vaga que estava sendo liberada. Estacionou e se dirigiu a agência bancária.

Agência bancária? Indagamos. 

Será que a mãe estava aguardando a filha na agência bancária? Será que não precisará de ajuda para deslocá-la até o carro, já que está chovendo e o carro está distante da plataforma elevatória que dá acesso a agência do Banco do Brasil?

Hora de manifestarmos nossa indignação oferecendo ajuda. Nos dirigimos a agência e olha aqui, e olha ali, anda para cá, anda para lá e....

Para nossa surpresa NÃO havia mãe com deficiência, apenas encontramos a jovem senhora fazendo seus serviços bancários. Saiu toda faceira e seguiu seu destino.

E ficamos ali novamente inertes tomados pela indignação!

Se aquele símbolo está ali porque de fato há uma pessoa com deficiência que utiliza o carro, não sabemos. O que ficou óbvio é que a jovem senhora fez uso de uma circunstância para obter um privilégio: não havia uma pessoa com dificuldade de locomoção com a jovem senhora; não havia o porquê dela utilizar a vaga exclusiva e muito menos estacionar sobre a faixa de pedestre!

Lembrando que, segundo o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), a primeira constitui-se uma infração leve e a segunda uma infração grave, ambas passíveis de multa e remoção do veículo! Nunca vi aqui em Sanca veículos sendo guinchados por estarem estacionados tanto na faixa de pedestres quanto nas vagas exclusivas ou obstruindo rampas de acesso a calçada. Multas, idem. E isso é corriqueiro na cidade, como podemos notar nas imagens...




Atenção brasileiros e brasileiras: essas vagas devem estar disponíveis às pessoas que fazem uso de aparelhos para sua locomoção, tais como cadeira de rodas, andadores, muletas; é por isso que as vagas exclusivas estão sempre - ou deveriam estar - demarcadas próximas de rampas e dos acessos aos edifícios. Colar um adesivo qualquer com o desenho do SIA (Símbolo Internacional de Acesso) no vidro não lhes dão o direito de fazerem uso de uma vaga destinada à pessoa cuja deficiência física ou mobilidade reduzida dificulta sua locomoção, a não ser que vocês estejam conduzindo alguém nestas condições.

Com  a RESOLUÇÃO 304 DE 18 DE DEZEMBRO DE 2008 somente terão direito ao uso das vagas as pessoas que portarem este cartão...

 
Este cartão identificador é uma tentativa de coibir o uso indiscriminado destas vagas. Porém, se não houver fiscalização pelos órgãos competentes e a aplicação das penalidades, o "jeitinho" de se tirar vantagem de tudo e de todos continuará.

Como disse a jovem senhora indignada: "ninguém respeita essas vagas".(sic)

Estamos de acordo, jovem senhora, afinal vale tudo por uma vaga.


Reatech 2010 - Dois olhares sobre o tema.

Postado em 02.05.10





Do Principado, passando pela EuroSampa com destino a Reatech.

Por Tuca Monteiro





ReaTech 2010! Para quem nunca ouviu falar é uma feira que abrange tecnologia e acessibilidade, reabilitação e INTEGRAÇÃO da pessoa com deficiência a sociedade. Encontamos tudo, ou melhor, quase tudo que há de novidade nessa área além de palestras sobre assuntos pertinentes...

E lá fomos nós, meu amigo Amílcar (O Educador da Inclusão) e eu Tuca Pituca fazer a viagem até o YAB-A-QUAR-A (Jabaquara).

De São Caetano do Sul ao Centro de Exposições Imigrantes
E que viagem! 

Saímos do “principado” de São Caetano do Sul no melhor estilo "ECO": “busão”! Um “busão” que não possui acesso para TODOS; aliás, nenhuma linha intermunicipal de São Caetano do Sul possui ônibus acessível (embora prefira um ônibus dentro do conceito universal, será que existe?). Pensando bem, seria muito pior se estivesse chovendo. Neste caso teríamos que alugar um bote para deixar o “principado”; contudo o sol nos brindou.

Primeira parada: terminal Sacomã. Dedinhos coçando e não resisti, saquei minha “arma” (sim, máquinas fotográficas são armas para os seguranças dos terminais), e

FLASH...


1 e 2) caixa de inspeção e fila interrompendo o piso tátil. 
3) segurança de OLHO em nós!
Piso tátil sendo interrompido pelas caixas de inspeção e fila da bilheteria! É obvio que não levaram em conta os fluxos de pedestres e os pontos de concentração de pessoas ao locarem os pisos táteis! 

Sem dúvida a melhor parte da viagem foi quanto adentramos o Metrô: um pedacinho da Europa na paulicéia desvairada. Alguém contesta? Amo o metrô, moraria no metrô - obviamente que fora dos horários de pico: tudo limpinho, cheirozinho, nada fora do lugar, pisos estáveis, não trepidantes, pessoas aparentemente “civilizadas”, acessibilidade plena...

Opa, plena??

Não sei, dúvidas pairam no ar...

Num primeiro olhar parece que está tudo perfeito, afinal estamos no Metrô, mas basta observar mais atentamente e começamos a identificar o que denomino de lapso. De fato em uma obra grandiosa como a do Metrô, a ausência de um corrimão e uma guia de balizamento em uma rampa só pode ser devido ao “esquecimento”, ...

1) ausência de corrimãos e guia de balizamento.
2) piso do passeio trepidante - blocos intertravdos (paver)
3) toten do metrô sobre o passeio e sem piso tátil de alerta, "esqueceram" da pessoa cega!
 
É um detalhe tão pequenino perto do TODO do Metrô (o TODO que deve ser o TUDO, como diz a jornalista da inclusão Claudia Werneck) que acaba passando despercebido pelos responsáveis; não pelos usuários.

Mas se se esqueceram deste detalhe, outros detalhes foram lembrados, e muito!!!! É piso tátil que não acaba mais: piso dando no nada,...

Piso tátil direcional terminando num guarda-corpo de escada(?)


piso que vai e vem em um incessante zigue-zague que só de olhar dá tontura. Imagina segui-los! Gente, como deve ser complicado definir eixos de circulação para as pessoas com deficiência visual! Quem faz uso destes pisos que o digam!

Chegamos ao Terminal Jabaquara,...


 ahhhh... voltamos a realidade: pisos torturantes

Mosaico português mal assentado.

 rampas íngremes, ausência de pisos táteis e entorno horripilante!

Obaaaa, PESSOAS com o mesmo destino...


Um grupo de pessoas com surdez extremamente comunicativas; porém, entre elas.


Olá eu existo! Excluída: é assim que me sinto quando estou próxima de grupos que se comunicam pela Libras!

Iniciar um curso de Libras e poder interagir com as pessoas, um desejo! Saber qual é a posição da pessoa sobre a inclusão no ensino regular, no mercado de trabalho; enfim, adentrar a “Ilha”: a ilha dos surdos.

Surpresa! Havia um ônibus acessível para o Zoológico. Quase mudei de rumo. Brincadeirinha. 




Pegar a van da Reatech ou ir a pé, “ó duvida cruel”. Decidimos pela segunda opção: praticar a caminhabilidade seria interessante. E foi mais do que interessante: foi sacrificante!...

O trajeto utilizando o meio de transporte a pé!Do Terminal Jabaquara a Reatech.

Nós e as pedras, as pedras e nós.
A disputa do espaço com os carros fora insessante devido aos passeios estreitos, muitas vezes inexistentes, mal conservados e repletos de obstruções como na imagem abaixo:  uma rua que dá acesso ao Terminal Jabaquara, portanto rota para pedestres, "portanto" deveria ter calçadas com passeios acessíveis por TODOS!

Rua Nélson Fernandes

Rua Campo Bom
Vias largas para carros como notamos na imagem acima e... Opa, cadê a faixa de passeio do calçamento  ? Reparem que não há faixa para pedestre na calçada, porém rebaixaram a guia! Pergunto: para que acesso à calçada se não temos como caminhar sobre ela?

Dou garagalhadas (em pensamentos) quando as municipalidades ou os politico-zinhos vem com o discurso: Esse programa de melhoramento das calçadas busca resgatar o papel das... calçadas(?!). Convenhamos, calçadas sempre existiram desde as cidades coloniais (com outra função) e continuam a existir: calçadas para árvores, para poste, para orelhão! O que tem que ser resgatado, municipalidades, é o PASSEIO PÚBLICO para PESSOAS!


Rua Getúlio Vargas Filho

Disputar espaço com os carros na rua Getúlio Vargas Filho? Nem pensar! Andamos em fila indiana no que restou do passeio da "praça(?)" Jutaí.

Enfim chegamos ao destino: Centro de Exposições Imigrantes. Ufa, que alívio! Não aguentava mais disputar espaço com os carros.

Opa... mais mosaico português?! Essas pedras nos perseguem!

Acesso ao Centro de Exposições Imigrantes

opa... mais obstruções sobre o passeio! 


Além do piso trepidante havia um poste e uma caixa de inspeção no caminho!

Opa, opa, opa e OPA!... mais disputa com os carros! Desculpem, mas ou eu tirava fotos ou  desviava dos carros. Como não sou boba, fiquei de olho nos carros e deixei meu momento fotógrafa de lado!

Ai ai ai, meus tornozelos já estavam chiando e tinha uma feira a ser percorrida.

Feira lotada, cadastro a ser feito e para onde se dirigir?

A resposta veio desse modo:

“Por favor, siga a faixa amarela (piso tátil direcional)”, disse o segurança. Senti-me a própria dona dos sapatinhos vermelhos do mundo de Oz. 

Google image
Olha que bacana o piso tátil servindo como orientação não somente para as pessoas com deficiência visual, mas por TODOS! Gostei, chegamos com rapidez ao guichê de cadastro e graças ao piso tátil. Mas não pensem que havia piso tátil por toda a feira, apenas um trecho que compreendia alguns stands.

Eu, particularmente, tive dificuldades para me ambientar: lugares fechados com muitas pessoas e barulhos diversos me deixam bem desorientada; fico de fato estressada, com dificuldade de concentração, portanto não fiquei à vontade para explorar a feira e virar dos avessos as pessoas que lá estavam com perguntas e mais perguntas. Por que, por que e por que? ? ?

Vimos muitas coisas legais, como esses aparelhos para ginástica da PHYSICUS, que podem ficar ao ar livre em parques e praças.
 
 
Em São Caetano, temos os equipamentos da longevidade em algumas praças para as pessoas da melhor idade. Agora podemos ter também em São Caetano os mesmo equipamentos, só que para usuários de cadeiras de rodas que, convenhamos, necessitam muito fortalecer e alongar seus membros superiores para vencer as barreiras urbanísticas, não é pessoas? Por favor, digam que siiiiim!!!!!!

A impressora que imprime textos em Braille. Preço: vinte e nove mil reais! Tecnologia importada. Segundo a mocinha atenciosa que nos atendeu, da Civiam Alfabeto Braille (falha minha, esqueci de anotar os nomes das pessoas), existem somente quatro gráficas que fazem impressão em braille em São Paulo, e que embora a cidade seja um pólo gastronômico não há procura para a confecção de cardápios em braille por parte dos comerciantes que acreditam não serem necessários, já que o garçom pode ler para a pessoa. 
É uma questão de autonomia, de inclusão, e um direito adquirido por lei! Tem que ter cardápio em Braille nos restaurantes, nas lanchonetes, nos bares, botecos, botequins e afins...



Eta barreira atitudinal

E AS PESSOAS COM BAIXA VISÃO, não tem o mesmo direito ao cardápio?


Mas, e na feira, será que havia cardápio em Braille no espaço para alimentação? Não saberei dizer, se bem que as pessoas com deficiência visual estavam sendo conduzidas por guias - pessoas voluntárias que receberam treinamento. É, do jeito que as calçadas estão sendo planejadas pelas municipalidades, do modo como estão locando os pisos táteis nos ambientes o melhor é ter um guia a disposição!

Vou abrir uma empresa:

Alugam-se pessoas guias de pessoas cegas.

E quem sabe ter um stand no ano que vem na ReaTech! Afinal, estamos falando sobre uma feira que gerou R$ 290 milhões em negócios! 

No stand da Rea Team andamos de cadeira de rodas. Adorei!!! Essas cadeiras são tão leves e confortáveis que solicitei uma para percorrer a feira, um “test drive”, mas tiraram o doce da criança. Apreciei o nível na rodinha frontal e no eixo das rodas traseiras para mostrar se estão em um ângulo de noventa graus e, assim, facilitar a manutenção da cadeira, que convenhamos com tantos pisos trepidantes que os governos e os munícipes estão adotando para o calçamento haja manutenção das rodas!

Na motorizada cheguei a sentar, porém não arrisquei: fiquei com receio de causar, sabe como é, mulher ao volante perigo constante (risos). Somente não gostei dos preços. Como são caras as cadeiras e os acessórios, é mais fácil comprar uma motocicleta! Ainda mais com a ajudinha oferecida pelo Governo Federal: créditos e isenção de impostos. Esse governo é mesmo uma mãe para alguns grupos econômicos. Não esquecendo que o índice de acidentes de trânsito com motos é alarmante!

Subi em um táxi acessível da Angelu`s, utilizando-me da cadeira. Deu um friozinho na espinha, contudo gostei do conforto e segurança garantidos! Pessoal do Sul, tudo de muito bom! 

Aliás, depois de disputar espaço com os carros nas vias públicas o máximo que me permiti foi bisbilhotar um táxi acessível. Fugi dos stands das concessionárias de veículos, havia até área para “test drive”! E olha que o povo “malacabado”, como diz Jairo Marques, consome carro(!): cerca de R$ 800 milhões são gastos com o consumo de carros e adaptações. Em pensar que a maioria das pessoas mal possuem uma cadeira de rodas descente para se locomoverem!

E a fuga também ocorrera dos stands das agências bancárias! Ora, ora, ora passo um nervoso toda vez que vou a uma agência bancária, não somente pela demora no atendimento que sempre excede os quinze minutos, mas também, por notar o descaso com que os ambientes estão sendo “adaptados” as pessoas com deficiência e mobilidade reduzida. 


É assim que me sinto...


E por falar em Sul, o pessoal marcou presença na feira...


Havia um stand de um grupo de estudantes da Universidade de Pelotas (RS) apresentando um protótipo. Como fiquei acometida por um lapso, o amigo Amilcar fez a gentileza de descrever-nos o projeto: “trata-se de um dispositivo (como um celular) que a pessoa cega que o portar, digitando o número da linha e o acionando ao chegar em um ponto de ônibus, emite frequência que será recebida pelo ônibus que deseja embarcar. Assim que o veículo atinge o raio de alcance da frequência, o motorista é alertado por sinal luminoso e responde ao sinal, parando no ponto para embarque da pessoa cega.”

E da-lhe chimarrão! A prefeitura de Caxias do Sul se interessou pelo projeto dos universitários. Parabéns.

Stand do SENAI uma grandiosa dúvida! Nos deparamos com um projeto cujo nome era: Plataforma Vibratória para Pessoas com Deficiência Visual elaborado por alunos da escola SENAI Mariano Ferraz.

Imagem cedida gentilmente pela Renata Mello


Contudo o protótipo apresentado, como podemos notar na imagem, fora de uma RAMPA vibratória. Isso mesmo, uma rampa que vibra indicando a pessoa cega que o semáforo está verde. Fora assim que o expositor nos explicou! E confesso que meus cabelos chegaram a arrepiar ao ver e ouvir sobre a tal RAMPA vibratória. Já imaginaram as rampas de acesso às calçadas que já são íngremes também vibrando?!

Tal dúvida me fez pesquisar e pesquisar, porém não encontrei absolutamente nada na Internet sobre o projeto da escola SENAI Mariano Ferraz. Alias me deparei com um projeto semelhante e muito bacana, inclusive premiado! 

Trata-se de um Sistema de Sinalização de Trânsito para pessoas com deficiência sensorial criado por três garotas (Aline Ferreira, Aline dos Santos e Alessandra Rocha) do curso de aprendizagem em eletrônica industrial do SENAI de Curitiba. O sistema consiste de uma PLATAFORMA vibratória localizada no mesmo nível do solo que vibra quando o sinal está verde (obviamente que deve ser associada ao piso tátil direcional). Ao contrário do sistema sonoro que imite um ruído alertando somente a pessoa cega, está plataforma possibilitará o uso também das pessoas com surdocegueira

Sobre a dúvida... continuamos com ela! 


 Os vasos sanitários! Fim do mistério da abertura frontal dos vasos e dos assentos. 

Imagem google image
Gente, não sabíamos qual era de fato a função destas aberturas. Graças à senhora simpática da MEBUKI ficamos sabendo que é para facilitar a higiene íntima da pessoa. Muito útil à pessoa idosa que é assistida e requisitado principalmente pelos hospitais. Opa, ficamos diante de um dilema: ter ou não ter tais vasos e tais assentos nos sanitários de uso público? Ajuda uns; porém, atrapalham outros: como as pessoas com paraplegia cujas pernas tendem a cairem no vão!

E falando em vaso sanitário, o que eram aqueles sanitários químicos ditos acessíveis!?? Vi pessoas que não conseguiram entrar “naquilo”. Um horror! Conversamos sobre sanitários com uma pessoa usuária de cadeiras de rodas do stand da ATRADEF que gentilmente foi nos mostrar suas dificuldades no sanitário acessível do pavilhão. Uma aula do que não deve ser feito. Suas colocações foram as seguintes:

- um absurdo haver somente dois  sanitários  acessíveis (com duas cabines cada) por toda a feira e para uso tanto de homens quanto de mulheres (unisex).

- não há lavatório dentro da cabine. Para quem faz uso de sonda isso é um problema. Ele mesmo não usou o sanitário da feira. “Como faço? Lavo minhas mãos no lavatório FORA da cabine; aí terei que me deslocar até a cabine para fazer a troca, só que já contaminei minhas mãos ao pegar no aro da cadeira e ainda terei que manusear a porta! Sem condições.”

Das pessoas que conheço que fazem uso da cadeira de rodas, apenas uma não faz uso de sonda! E não podemos nos esquecer das pessoas  que usam a bolsinha coletora (colostomia).

- pessoas que usam fraldas necessitam de um banco confortável dentro da cabine e, portanto, espaço para fazer a troca, assim como a duchinha higiênica para a assepsia.

Quando um bebê faz xixi na fralda a mamãe não faz a limpeza com a finalidade de evitar assaduras e mau cheiro? E para isso não deve ter um local adequado para tal troca? Então, para as pessoas que fazem uso de fraldas é a mesma situação.

- assento do vaso deve ser almofadado para não machucar.

- a ausência de uma das barras de apoio lateral dificulta o uso do vaso sanitário, sobretudo de pessoas que fazem uso da muleta sueca. 


A norma técnica indica apenas uma barra lateral e outra frontal. Outro dilema: colocar ou não a terceira barra, que neste caso deverá ser articulada. Vimos barras no stand da Teckinox, porém o sistema de articulação não é de fácil manuseio. Travou quando manuseei, travou quando o expositor manuseou.

Catálogo Teckinox

E naturalmente que não posso esquecer de um apessoa muito especial (gostaria de citá-la pelo nome, porém não solicitei autorização para tal) que conhecemos no stand da EXPANSÃO – Laboratório de Tecnologia Terapêutica. Trata-se dessas raras profissionais que lutam pelo direito ao desenvolvimento da pessoa com deficiência cognitiva severa e que muitos profissionais tendem a rejeitar. Jamais esquecerei de sua frase:

Uma novela conseguiu o que nós não conseguimos em trinta anos!!

Não, não pensem  se tratar de um elogio à “novelita” global e seu “marqueting” social; é uma crítica que nos leva a reflexões profundas, ácidas, daquelas que incomodam tanto, mas tanto que nos obriga a sair da zona de conforto. Amílcar, querido Amílcar, poderias tu nos presentear com tais reflexões?

Fez críticas contundentes e com conhecimento de causa sobre as posturas nada éticas das instituições que lidam com reabilitação, sobretudo, da aquisição de cadeiras de rodas padronizadas (solicita-se ao governo a verba para a aquisição da cadeira “x” porém se adquire a cadeira “y” de qualidade bem inferior), que acabam comprometendo o desenvolvimento da criança, e do sistema de saúde público estadual que pouco investiu nesse segmento.

Penso: quantas pessoas especiais como esta deixei de conhecer na feira? Quantos Amilcares estavam ali e não enxerguei! Quantas pessoas de fato terão acesso as  tecnologias expostas na feira 

Descobri que a Reatech não é simplesmente uma feira voltada para a área médica e as instituições, ou como deseja seus idealizadores, uma feira de negócios...

É muito mais: é um evento social!

Um local de encontro e reencontro, de diversão, de troca, de debates onde a diversidade, ou boa parte dela, está presente. Onde pais levam seus filhos para “conhecer” essa tal diversidade!

Porém, essa rica diversidade humana não deve estar somente em feiras como a Reatech, e sim em todos os lugares e, para isso, a sociedade deve lutar por ambientes que sejam realmente inclusivos, onde as pessoas possam encontrar e reencontrar outras pessoas; possam se divertir, trocar. E quem sabe fazer seu “xixi” como todas as demais pessoas: com dignidade! Ambientes que possibilitem sempre e sempre a interação de tal modo que os pais não mais necessitem levar seus filhos as “Reatechs” com o intuito de perceberem que somos todos diferentes, e que isso é natural, é do Ser humano.

Enfim, termino a viagem me perguntando: será que o pouco que está sendo feito nas cidades quanto à elaboração de espaços livres de barreiras, sejam urbanísticas ou arquitetônicas, ou quanto à mobilidade urbana, atenderá os anseios de uma sociedade inclusiva?.